Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 18 de março de 2013

Beat Generation - Revista Boom (1996)

Em 1996 a revista alternativa Boom nº 8 trazia uma boa matéria sobre a Beat Generation. Esse é o único número que possuo dessa revista, e devo tê-la comprado no Rio, pois naquela época eu morava lá. A matéria é interessante, e traz vários textos, de diferentes autores, sobre o assunto. No índice da revista, um texto introdutório diz:
"Uma estrada, um Cadillac, pacotinhos de sopa de ervilha e café. Vinte dias, uma máquina de escrever e mais de cem mil palavras datilografadas. Esses são alguns ingredientes que geraram a bíblia da beat generation, o livro 'On the Road', escrito por Jack Kerouac em 51."
Na ocasião On the Road estava nos planos de ser adaptada para o cinema, tendo Francis Ford Copolla como o diretor. Porém, Copolla desistiu do projeto, e o filme só seria adaptado muitos anos depois, a convite, pelo brasileiro Walter Salles. Abaixo transcrevo alguns trechos da matéria:
"Era um fim de tarde outonal do ano de 1945. O céu violeta filtrava a luz de um sol minguante - raios púrpuros envolviam a Times Square, NY - deixando as fachadas dos edifícios imersas numa áurea de sonho. Próximos dali, dois jovens poetas fumavam um baseado enquanto trocavam impressões sobre a natureza do Universo.
Allen Ginsberg
'Tenho a nítida impressão de que a matéria do Universo é real e ao mesmo tempo irreal', refletia o jovem poeta Allen Ginsberg, 'mas a questão é sabermos qual a natureza da inteligência que construiu esta vastidão tão velha e infinita como o Primeiro Dia...'
A conversa matafísica prosseguia à medida em que o sol ia se pondo.
'O que me intriga, disse o outro, de nome Jack Kerouac - é a grandeza do Universo, a vastidão do espaço que nos envolve.'
E a conversa entre os dois poetas prosseguiu durante noites, dias, semanas, meses e décadas a fio, estendendo-se a outros poetas e escritores igualmente interessados na natureza da consciência humana. É deste concílio que se formou, nasceu o que os dois, naquele fim de tarde, denominaram 'Nova Consciência' ou 'Nova Visão'. E que a mídia, alguns anos depois, batizou de Beat Generation, movimento definido por Allen Ginsberg como 'um pequeno grupo de amigos vivendo excitadamente numa idade compativelmente tolerável, interessados na textura da consciência e em como tranportá-la para o papel'.
Jack Kerouac
O termo beat foi criado por Jack Kerouac em 48 e levado ao público quatro anos mais tarde pelo jornalista John C. Holmes do New York Times, no artigo 'This is the beat generation'. A palavra beat traduzida para o português quer dizer 'derrubado'. O nik foi emprestado do satélite Sputnik, que acabava de ser atirado no espaço pela extinta União Soviética, e anexado só em 58.
O termo beatnik 'cheio', nasceu a partir de uma reportagem de comportamento do jornal San Francisco Chronicle que apontava na direção da legião de jovens que migravam para as praias do norte da Califórnia.
Os caras mais expressivos dessa turma foram William Burroughs, Allen Ginsberg, Gregory Corso, Robert Frank, Lawrence Ferlighetti, Neal Cassady, Gary Snyder, Michael Mclure, além do pai de todos, Mr. Jack Kerouac.
Willian Burroughs
No Brasil quem incorporou a literatura beat de maneira mais direta foi o poeta Roberto Piva. Segundo Cláudio Wiler, o pioneiro tradutor - Uivo de Allen Ginsberg - o contato com Ginsberg e Kerouac, no início dos anos 60 provocou uma explosão na poesia de Piva, que escreveu na época um longo poema chamado Ode a Fernando Pessoa.
O clima com os simpatizantes brasileiros da Beat Generation não era dos mais amistosos. 'Viramos um assunto no qual literalmente não se falava, lembra Cláudio Willer, éramos marginalizados pela esquerda, pelos conservadores e pelos poetas formalistas. Piva e eu escrevemos vários manifestos de provocação dirigidos a estas correntes que nos marginalizavam. Era um assunto polêmico.'
O fato é que somente em 1983 chegaria ao público brasileiro a primeira tradução de uma obra beat, On the Road, de Jack Kerouac. Logo a seguir vieram Subterrâneos, de Kerouac, Parque de Diversões da Mente, de Ferlinghetti e Uivo de Allen Ginsberg. Questões de âmbito editorial explicam, em parte, a escassez de obras de escritores beats nas livrarias brasileiras. A dificuldade de traduzir os textos - também contribuiu para explicar essa escassez."

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