Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Preciosidades em Vinil - Estudando o Samba (Tom Zé)


Outro ítem precioso de minha coleção de vinis é Estudando o Samba, de Tom Zé. Lançado em 1976, o álbum traz experimentações sonoras e pesquisas musicais do mais maldito dos tropicalistas. Em Estudando o Samba, Tom Zé apresenta 12 composições, sendo que a única que não é de sua autoria é uma releitura bem pessoal, num canto bem intimista do clássico bossanovista A Felicidade, de Jobim e Vinícius. Os títulos das demais músicas são todos em monossílabos: Mã, Toc, Tô, Vai, Ui!, Dói, Mãe, Hein?, Só, Se. O disco traz duas inusitadas parcerias com Elton Medeiros - sambista de raiz, parceiro de Cartola e Paulinho da Viola. Apesar do título e das parcerias com Elton Medeiros, o disco não é de samba, embora o ritmo apareça, às vezes sutilmente, em alguns trechos de músicas. As letras são outro ponto forte do álbum, e trazem toda a verve poética característica de sua obra, como em Se: "Ah! Se maldade vendesse na farmácia/ Que bela fortuna você faria/ Com essa cobaia/ Que eu sempre fui em suas mãos".
Apesar do caráter experimental, o disco não é daqueles de difícil assimilação e entendimento. A levada do ritmo das composições é agradável a qualquer ouvido, mesmo àqueles não muito habituados a inovações e experimentos.
Em meados dos anos 80, Estudando o Samba acabou salvando a carreira de seu autor, pois em virtude do ostracismo em que se encontrava no mercado da música, Tom Zé, desiludido, havia decidido abandonar a música e voltar para sua terra natal - Irará, na Bahia. Nessa ocasião, David Byrne, líder da banda Talking Heads, e também cineasta, estava no Brasil, onde apresentaria seu filme True Stories em um festival de cinema no Rio. Devido a um problema entre Byrne e a organização do festival, o filme não foi exibido. Com o dia livre, Byrne resolveu percorrer alguns sebos, a procura de discos de samba. Em um determinado sebo, um vendedor mal informado, ao ver a palavra "samba" no título do álbum, colocou Estudando o Samba entre os discos que separou. Ao ouvir o disco, David Byrne pirou com aquele som diferente de tudo, e ficou tão impressionado, que pediu ao produtor e músico Arto Lindsay, um americano que foi criado em Pernambuco, e já havia trabalhado com Caetano e Marisa Monte, para localizar o autor daquele disco. Após contactá-lo, lançou Tom Zé no mercado americano, através de uma coletânea de suas músicas, e o disco inédito The Hips of Tradition. A partir daí, a carreira de Tom Zé decolou novamente, inclusive no Brasil.

2 comentários:

  1. Ótima resenha sobre um dos mais representativos ícones do tropicalismo,amigo Márcio! Como tudo que existe na obra de Tom Zé,este é mais um trabalho instigante e surpreendente deste inovador músico. Imperdível para quem se interessa pelo experimentalismo (e não só) da nossa rica música brasileira. Abços.

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  2. Ótima resenha sobre um dos mais representativos ícones do tropicalismo,amigo Márcio! Como tudo que existe na obra de Tom Zé,este é mais um trabalho instigante e surpreendente deste inovador músico. Imperdível para quem se interessa pelo experimentalismo (e não só) da nossa rica música brasileira. Abços.

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