Palavras Domesticadas

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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ronnie Von Psicodélico

Ronnie Von surgiu para a música em 1965, interpretando uma versão para a música Girl, do álbum Rubber Soul, dos Beatles. A música, que em português virou Meu Bem, foi um sucesso imediato, e Ronnie virou um novo ídolo da Jovem Guarda do dia para a noite. Com sua bela estampa e um jeito peculiar de cantar, com uma voz um tanto rouca, logo ele ganharia o apelido de "o pequeno príncipe", talvez um contaponto ao "rei" Roberto Carlos. A imprensa logo criou uma espécie de rivalidade entre os dois, a ponto de Ronnie receber o convite para apresentar  um programa de tv na Record, que se chamaria O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Em seu programa Os Mutantes, que aliás, foram batizados por ele, que sugeriu o nome inspirado num livro que ele estava lendo na época: O Planeta dos Mutantes, eram atração constante. Mesmo antes do Tropicalismo existir como movimento, Ronnie já se aproximava de Gil , Caetano e os Beat Boys (que acompanharam Caetano em Alegria, Alegria).
Em 1967, Ronnie grava um disco ousado para sua carreira de astro da Jovem Guarda, com acompanhamento dos Mutantes em oito faixas, e participação de Caetano Veloso na faixa Pra Chatear. O maestro Rogério Duprat e o produtor Manoel Barenbein, ligados ao grupo tropicalista também participaram da produção do disco. O LP não foi compreendido por seu público, ainda ligado à estética da Jovem Guarda, e o disco foi um grande fracasso de vendas.

Capa de seu disco de 68
Em 1968, em vez de voltar ao velho estilo, como poderia se esperar, Ronnie resolve mergulhar mais radicalmente no rock psicodélico em seu disco daquele ano. O disco abre com Meu Novo Cantar e
Chega de Tudo, trazendo uma certa agressividade em letras que são meio que um desabafo, seguida por Espelhos Quebrados, que traz a letra meio surrealista,  e um rock com influências de Hendrix: Sílvia: 20 Horas, Domingo. Até um som incidental, uma espécie de jingle de um certo Bar Íris (provavelmente imaginário) foi usado entre as últimas faixas. Pode-se dizer que é um disco anárquico e ousado. Obviamente, tamanha ousadia não agradou aos diretores de sua gravadora, pois afastaria seu público-alvo.
O seu álbum seguinte, de 1969, sofreria algumas intervenções da gravadora, afetando sua liberdade criativa, mas mesmo assim ainda trazia toques de ousadia e experimentações, a começar pelo próprio título: A Misteriosa Luta do Reino do Parassempre Contra o Reino do Nuncamais. O grupo argentino Beat Boys participaria do trabalho, trazendo ecos de rock progressivo. Uma das melhores faixas, por exemplo trazia um quilométrico título:  De Como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta a Alfa do Centauro, Meu Verdadeiro Lar. Até bossa-nova havia no disco, Dindi, e uma versão para Atlantis, de Donovan, que virou Atlântida, feita por Ronnie e Rita Lee.

Capa de A Máquina Voadora
Em 1970 Ronnie ainda buscava um som de vanguarda e antenado com as novas influências de um rock mais radical e livre, mas a intervenção da gravadora, insatisfeita com sua ousadia em busca por um experimentalismo anti-comercial, apesar de ainda ser um cantor popular, afetou a produção de seu novo disco, A Máquina Voadora. Como na época ainda não havia discos independentes, os artistas tinham que se submeter às gravadoras, que sempre visam o lado comercial. Ronnie Von, hoje lamenta não ter podido conceber seus álbuns como gostaria, tendo que ceder às pressões comerciais; "A partir daí, meus discos começaram a sair pra cumprir contratos. Eu me sinto triste até hoje por não ter levado meus projetos adiante. Tinha tanto para mostrar, tantas ideias interessantes..."

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