Palavras Domesticadas

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domingo, 7 de novembro de 2010

Nelson Motta e Ruy Castro na Bienal do Livro de Campos



Desde a última sexta-feira, não por acaso no Dia Nacional da Cultura, Campos realiza sua sexta Bienal do Livro, numa enorme estrutura montada na principal praça da cidade. Trazer a bienal para um local mais central foi uma boa ideia, pois acaba atraindo a presença de pessoas que normalmente não frequentam eventos como esse. Apesar de críticas sem fundamento, proferidas por um fotógrafo e jornalista em seu blog, a forma adotada nessa bienal foi acertada. O citado blogueiro argumenta em suas críticas: " O que não dá pra entender é a realização do evento em uma grotesca barraca montada em plena Praça São Salvador, violentando nosso principal cartão-postal, levando caos ao trânsito." O que ele chama de "grotesca barraca" é uma enorme estrutura de metal e lona, muito utilizada em eventos desse porte. Ao contrário do citado blogueiro, que fala em violência contra nosso principal logradouro público, a estrutura montada em torno da Praça São Salvador convive harmoniosamente com o espaço. Achei, inclusive, bastante interessante ver a estátua do monumento aos pracinhas fazendo parte de um espaço fechado. Quanto ao "caos no trânsito", só ele viu, pois só foi obstruída uma via, que não é tão movimentada, e que pode ser retomada alguns metros a frente.
Mas voltando ao evento, na noite de ontem aconteceram duas interessantes palestras. A primeira, com o jornalista e escritor Ruy Castro, sobre a paixão pela leitura e a importância do livro em sua vida e das pessoas em geral. Mais tarde o mesmo Ruy retornaria para, juntamente com o jornalista, crítico, produtor, e homem de mídia Nelson Motta, discorrer sobre música brasileira.

Foi bastante interessante a explanação de ambos os convidados, tecendo opiniões sobre diferente aspectos da MPB. Não deixou de ser curioso, por exemplo, ver os dois desmistificando a importância que é dada aos antigos festivais. Segundo Ruy, ao contrário do que normalmente se fala, toda aquela geração de compositores que surgiram nos antigos festivais, teriam a mesma projeção sem aqueles eventos, já que o talento que apresentavam acabaria mais cedo ou mais tarde, chamando a atenção dos executivos das gravadoras. Nelson também teceu críticas ao formato competitivo dos festivais, inclusive considerando o de 68, quando Chico Buarque e Tom Jobim foram vaiados, como o esgotamento da fórmula.

Como se trata de dois críticos com formações diferentes, houve discordâncias em alguns pontos levantados, como a importância do rock para a cultura nacional. Ruy é declaradamente avesso ao gênero, enquanto Nelson tem toda uma vivência no mundo do rock. Basta lembrar que muitas bandas de rock foram a mim apresentadas através do programa Sábado Som, da Globo, apresentado por ele nos anos 70.
Após a conversa houve a participação do público com perguntas. Uma das questões levantadas girou em torno da música sertaneja, sempre criticada por Nelson. Dessa vez ambos concordaram com relação à pobreza desse gênero. Ruy, inclusive citou uma frase que eu já conhecia, porém não sabia que é atribuída ao jornalista Ronaldo Bôscoli, que diz que a espingarda de dois canos deve ter sido inventada para matar duplas sertanejas com um tiro só. Nelson lembrou de uma foto famosa, que foi publicada na época da eleição de Collor, onde o casal presidenciável aparece recebendo várias das duplas sertanejas de sucesso, onde fica claro o apoio que os artistas davam ao recém-eleito presidente. Ele resuniu bem numa frase: "Eles se merecem".
Foi uma boa palestra.

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