Palavras Domesticadas

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domingo, 30 de dezembro de 2012

Falando de Dadaísmo

O Dadaísmo foi um movimento de arte vanguardista surgido no início do século passado, reunindo uma série de artistas e teóricos, com o objetivo de subverter a arte e a literatura, e estabelecer novos parâmetros para a criação e a forma de enxergar o que se chama de arte. O dadaísmo surgiu como uma ruptura com o passado, incluindo as vanguardas cubista e futurista.Tristan Tzara, um dos principais participantes da corrente, dizia que Dadá não era uma escola literária ou artística, mas uma fórmula de viver. Dizia ele:
Tristan Tzara
"Há quem creia explicar racionalmente, por intermédio do pensamento, o que escreve. Mas isso é muito relativo. O pensamento é coisa muito bonita para a filosofia, mas é sempre relativo. A psicanálise é uma doença perigosa, adormece as propensões anti-reais do homem e sistematiza a burguesia. Não há uma verdade última. A dialética é uma máquina divertida que nos conduz de maneira banal às opiniões que haveríamos  tido de qualquer modo(...) Odeio a subjetividade gorda e a harmonia, essa ciência que acha que está tudo em ordem. Sigam, filhos meus, humanidade... Diz a ciência que somos servidores da Natureza: tudo está em ordem, façam amor e partam a cabeça. Sigam, filhos meus, humanidade, gentis burgueses e jornalistas virgens... Estou contra os sistemas. O mais aceitável dos sistemas é não ter, por princípio, nenhum."
O livro "Movimentos Literários de Vanguarda" (Salvat Editora - 1979) esclarece:
"O dadaísmo não se declara literário ou artístico, mas ponto final de uma evolução que situa a arte no beco sem saída do absurdo. A barreira deve ser saltada, do outro lado se encontra (se reencontra) a vida. É, acima de tudo, uma radical ruptura com o passado, incluindo as próprias vanguardas precedentes: 'Basta de academias cubistas e futuristas, laboratórios de ideias fomais.' Este vitalismo dadaísta passa pela reivindicação do niilismo, da dúvida sistemática ('Tudo é Dadá, desconfiai de Dadá'), da loucura, do embuste, do humor cáustico, da gratuidade e do exibicionismo - do terrorismo cultural, em suma."
Marcel Duchamp
Um dos principais nomes do movimento Dadá, e um dos que se tornarasm mais famosos, foi sem dúvida Marcel Duchamp, artista plástico e fundador de várias revistas divulgadoras do Dadaísmo. A Gioconda de DaVinci com bigodes, e um mictório masculino elevado a objeto de arte, denominado Fonte, e assinado pelo artista, são dois exemplos da subversão da arte proposta pelo inquieto Duchamp. Outros artistas, a exemplo de Duchamp utilizavam objetos de uso cotidiano como obra artística, como espartilhos, papel de jornal, bilhetes de ônibus, etc, utilizados por Kurt Scwitters.
No campo literário, o Dadaísmo se manifestava principalmente em ações panfletárias (sete manifestos e numerosas revistas) e na celebração de festivais sempre polêmicos e escandalosos em que se misturam recital poético, teatro de cabaré, sendo ainda os dadaístas precursores dos happenings, que se tornaram comuns a partir dos anos 50, com os beatniks. Eram autênticos anti-espetáculos, onde os dadaístas exibiam a si próprios, mais do que sua arte, em atitudes provocantes, como as conferências de Arthur Cravan, onde ele se apresenta completamente bêbado. A famosa receita de Tristan Tzara para compor um poema dadaísta, com tesouras, jornais e cola, deve ser interpretada como mais uma manifestação panfletária de humorismo do autor e não para ser tomada ao pé da letra.
Exposição dadaísta em Berlim
Segundo o livro Movimentos Literários de Vanguarda, "Um estado de espírito semelhante ao dadaísmo surgiu simultaneamente na Suíça e nos Estados Unidos, como se exprimisse o dos desertores morais da Primeira Guerra Mundial. O grupo suíço formou-se explicitamente em 14 de julho de 1916, em Zurich, no bar Voltaire (creio que o nome da banda Cabaret Voltaire venha daí), sendo constituído por Tzara (romeno e, como tantos outros, bilingue), Richard Huelsenbech e Hugo Ball (alemães), todos eles escritores, e pelos pintores Hans Arp (alsaciano) e Marcel Janco (romeno). O grupo norte-americano inclui como figuras mais destacadas Man Ray e os europeus Marcel Duchamp e Francis Picabia. Mas, até a reunião de Lausanne, em 1918, esses grupos não entraram em contato uns com os outros, e a eles se uniu Max Ernst, divulgador do dadaísmo da Alemanha."
Quadro Giratório, de Otto Dix
Na França, os diretores da revista Littérature, André Breton, Aragon e Soupault, convidaram Tzara a acompanhá-los, e ele acabou fixando residência em Paris. A atividade dadaísta conjunta começa em fevereiro de 1920, com o primeiro encontro, em que Tzara promete que seu manifesto será lido por "quatro pessoas e um jornalista". Entre março e junho daquele ano realizam-se os mais variados festivais, em que são apresentados sketchs redigidos ou compostos pelos respectivos membros. Desconcertando a crítica e o público, Tzara promete 50 francos de prêmio para quem encontrar a maneia de explicar o que pretende o Dadaísmo.
O último festival dadaísta aconteceu em julho de 1923, e não terminou nada bem. Já havia uma crise no movimento, refletindo um desgaste interno entre seus membros. O evento terminou numa grande pancadaria, com troca de socos entre os dadaístas, precisando da interferência da polícia. Mesmo sem querer, foi mais um autêntico happening proporcionado pelos dadaístas.

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