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Carlos Santana é um dos guitarristas mais criativos da história do rock. Surgido ainda nos anos 60, trouxe a linguagem da latinidade para o rock, caracterizando assim seu trabalho. Também flertou com outros ritmos, inclusive o jazz, tendo lançado alguns discos nessa linha fusion. Em 1987 lançava o disco Blues For Salvador, e na ocasião o fotógrafo e jornalista Carlos Albuquerque publicou a seguinte resenha em O Globo:
"O concerto de Woodstock, no final da década de 60 - ao contrário do que rezam algumas apressadas cartilhas - foi o poente de um movimento chamado contracultura. Tirando-se, entretanto, o miolo ideológico da coisa toda, restou o substrato principal do referido evento: a música. Quem viu o filme saiu com algumas cenas na cabeça. As principais, e mais citadas, eram as performances do Ten Years After, do The Who, de Jimi Hendrix, e de Santana.
Quase duas décadas depois, é um curioso exercício arqueológico localizar tais artistas. O TYA praticamente se tornaram uma banda de uma canção só, já que em todos seus shows pós-Woodstock, as plateias exigiam que Alvin Lee e sua banda repetissem a pirotecnia de 'I'm Going Home'. Já Hendrix deu seu último rasgo de genialidade no concerto. Pouco depois faleceu, sufocado pelo próprio vômito. O The Who manteve-se brilhantemente na ativa. Desbandou-se, há alguns (poucos) anos atrás, com maturidade e sem escândalos. Da turma toda, restou Carlos Santana. Duas décadas depois, ele ainda exercita constantemente no vinil, sendo 'Blues for Salvador' o mais recente exemplo disso.
Em vinte e um anos de carreira, incontáveis fãs e alguns detratores. Convenhamos, é muito tempo para alguém conseguir manter uma unanimidade de crítica e público. A seu favor, contam momentos mágicos, uma fonte de calor e balanço nos momentos em que o rock mais teve problemas de cintura dura. Santana foi o fisioterapeuta ideal. Elepês como 'Abraxas' e 'Santana 3' davam a receita: doses perfeitas de rock básico, aliados a uma singular selva percussiva, capaz de levantar zumbis da tumba. O componente principal era a guitarra de Carlos, capaz de alternar longos solos, sustentados quase infinitamente, com notas rápidas e faiscantes. Para tomar quantas vezes fosse necessário.
Depois flertou com religiões orientais e com sonoridades jazzísticas. Seu melhor trabalho é dessa fase - quando começou a chamar-se Devadip Carlos Santana - o emocionante 'Caravanserai'. Desse período, restaram elogios da crítica e queda nas vendagens. O sinal vermelho veio da gravadora. Foi dada a partida na fase mais comercial de sua carreira. Vieram os desiguais 'Amigos', 'Festival' e 'Inner Secrets'. Vieram os tais detratores.
Hoje, ele parece ter conseguido a equação ideal entre o seu som e o que é 'pedido' pelo mercadão. Mesmo assim, ainda alterna belos momentos como 'Havana Moon', com outros menos inspirados, como 'Marathon'.
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'Blues for Salvador' fica assim, num meio termo entre esses dois opostos. Se não chega a ser um dos seus melhores trabalhos, também não fica engasgado na garganta. Desce suavemente, como um sorvete numa tarde calorenta. Isso permite que 'Deeper, Dig Deeper' e 'Hannibal', já lançadas posteriormente, tenham outras versões lançadas. A primeira ficou só com a base intrumental, deixando de fora a voz de Buddy Miles. Já 'Hannibal' tem sutis diferenças da original, o clima latino é mantido, com uma falsa coda jazzística no final.
O melhor talvez esteja em 'Now That You Know', um longo improviso instrumental, com destaque para as passagens de Alphonso Johnson no baixo e Carlos na guitarra. Nada mal para quem corre há anos o louco grande prêmio do rock an roll. 'Blues for Salvador' não chega a ser uma pole-position. Mas é uma ótima volta."
Excelente texto,adorei.
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