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Um grande disco que possuo, não só em vinil, como também em cd é Orós, de Fagner. Lançado em 77, esse disco representou uma ruptura no trabalho de Fagner, e até hoje é um trabalho diferenciado em sua carreira, pelo experimentalismo e ousadia. Tendo Hermeto Pascoal como arranjador e diretor musical (ao lado do próprio Fagner), Orós traz músicos de expressão, como Robertinho de Recife (guitarra), Paulinho Braga (bateria), Chico Batera (percussão), Nivaldo Ornelas (sax), Márcio Montarroyos (trumpete e flugelhorn), Dominguinhos (acordeon), Mauro Senise (flauta), além de Hermeto Pascoal e seu grupo. Na época de seu lançamento, a jornalista Ana Maria Bahiana fez a seguinte resenha do álbum para o Jornal de Música:
"O difícil do progresso é a transição. Insatisfeito em ser apenas mais um compositor cearense ligado ao formato 'canção popular', Fagner foi buscar em Hermeto as luzes e forças necessárias para progredir. Passo interessante na atitude, na inquietação , mas perigoso nos resultados. Hermeto, como se sabe, é um superfuracão albino, estraçalhador de moldes convencionais, catapulta tão possante quanto destruidora, depende da resistência do que é projetado. E a música de Fagner, ainda ligada ao feitio canção, quase se espatifa toda e, como o açude que dá nome ao disco, transborda. No mau sentido. O que Orós poderia ter sido, integralmente - e o que a música inteira de Fagner, inteira poderá ser se ele souber segurar firmemente o barco - está em algumas faixas brilhantes: Romanza, uma das derradeiras parcerias Fagner/Belchior (com Fausto Nilo também) parte de uma base nordestina de galope e, por artes de Hermeto, explode em todas as direções, com a voz cortante de Fagner duelando com o sitar diabólico de Robertinho de Recife; e Cebola Cortada, de Petrúcio Maia e Clodo, onde Hermeto consegue conciliar seus impulsos amazônicos com os limites da canção de amor, coisa que Fagner certamente sabe cantar. Há também esboços interessantes, como a faixa título, bem mais hermética que fagneriana, e Fofoca, composta pela dupla no estúdio, com um uso inteligente de timbres de voz e dublagens sucessivas - coisa que está colocada, com perfeição em Romanza."
Como se vê em sua crítica, a jornalista faz restrições ao álbum, justamente pelo aspecto ousadia, que citei no início do texto. Creio que algumas obras só são compreendidas integralmente, com o distanciamente que o tempo sabiamente traz.
Algumas faixas não são citadas na crítica, e que ouvidas hoje, se constituem em algumas das melhores gravações da carreira de Fagner, como Cinza, Flor da Paisagem e Epigrama nº 9 (poema de Cecília Meireles musicado por Fagner). Não há uma música sequer que pode ser considerada fraca, e o transbordamento a que se refere a jornalista, da música de Fagner, que ela ressalta ser no mau sentido do termo, eu colocaria justamente na condição contrária: é um transbordamento de criatividade, de ousadia e musicalidade, coisas que andam tão em falta hoje em dia.
Posso dizer que Orós é um grande disco, e que hoje, 34 anos depois de seu lançamento, pode ser mais compreendido do que na época.
Um grande álbum mesmo. Há uma versão menos experimental de "Cebola cortada" lançada pelo Clodo com seus irmãos Climério e Clésio também em 1977, no álbum São Piauí. Pra mim, consegue ser ainda mais potente que a versão dilacerante do Fagner, apesar de haver uma enorme distância entre o 'talento' do vocal do Fagner para o dos irmãos piauienses.
ResponderExcluirNão conheço essa versão dos irmãos piauienses. Obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirEu acho que só conheço ''Cebola Cortada'',muito boa,por sinal.
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