Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Jack Kerouac - Viajante Solitário


Acabei de ler Viajante Solitário, de Jack Kerouac. Um livro brilhante, mais um exemplo da prosa espontânea e da linguagem frenética do autor mais aclamado da Beat Generation. Ler Kerouac é sempre uma experiência compensadora por seu estilo de escrever, descrevendo imagens que parecem passar a sua frente como num filme, e as palavras fluem numa velocidade e precisão que somente um escritor como Kerouac consegue transformar em textos. O livro é composto de oito textos autobiográficos, onde Kerouac narra suas andanças mundo afora, por trem, navio e pelas autoestradas, que ele conhecia tão bem, a ponto de parecerem seu próprio lar, como ficou também descrito em sua obra mais representativa: On The Road/Pé Na Estrada. Viajante Solitário conta suas passagens por lugares como Marrocos (onde Kerouac encontra-se com outro escritor beat: William Burroughs), França, México, além de suas várias andanças pelos Estados Unidos. Abaixo, uma de suas narrativas autobiográficas:
“Poupei cada centavo e então torrei tudo subitamente em uma grande e gloriosa viagem à Europa ou a outro lugar qualquer e me senti leve e feliz também. Levou alguns meses, mas finalmente comprei uma passagem em um cargueiro iuguslavo que partiu do Bush Terminal, do Brooklin, para Tânger, Marrocos. Zarpamos em uma manhã de fevereiro de 1957. Eu tinha uma cabine dupla só para mim, todos os meus livros, paz, sossego e estudo. Finalmente seria um escritor que não teria que trabalhar para os outros.”
A temática preferida dos livros de Kerouac sempre foi a estrada, suas experiências, seus encontros e desencontros, e tudo mais que faz parte da vida de um estradeiro, sempre à procura de novas aventuras, experiências, um lugar pra dormir, comida e bebida barata, amores furtivos e muito chão para percorrer. Ao contrário de parecer um escritor repetitivo, explorando seguidamente o mesmo tema, cada livro de Kerouac é uma experiência diferente para o leitor, como são as próprias viagens do autor – imagens que nunca se repetem, narrativas que sempre trazem toda a inventividade de seu estilo, de sua prosa poética de um vagabundo das estradas, de um andarilho que como nenhum outro soube transformar em relatos geniais suas experiências pelas estradas do mundo. “Pensando nas estrelas noite após noite começo a perceber que 'As estrelas são palavras' e todos os incontáveis mundos da Via Láctea são palavras, e esse mundo também o é. E percebo que não importa onde eu esteja, seja em um quartinho repleto de ideias ou nesse universo infinito de estrelas e montanhas, tudo está na minha mente. Não há necessidade de solidão. Por isso, ame a vida pelo que ela é e não forme ideias preconcebidas de espécie alguma em sua mente.”
Esse é Kerouac, o anti-herói das estradas, o viajante solitário.

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